Resenha do livro "Proibido - Tabitha Suzuma"
maio 28, 2019
Ela é doce, sensível e extremamente sofrida: tem dezesseis anos, mas a
maturidade de uma mulher marcada pelas provações e privações da pobreza,
o pulso forte e a têmpera de quem cria os irmãos menores como filhos há
anos, e só uma pessoa conhece a mágoa e a abnegação que se escondem por
trás de seus tristes olhos azuis. Ele é brilhante, generoso e altamente
responsável: tem dezessete anos, mas a fibra e o senso de dever de um
pai de família, lutando contra tudo e contra todos para mantê-la unida, e
só uma pessoa conhece a grandeza e a força de caráter que se escondem
por trás daqueles intensos olhos verdes. Eles são irmão e irmã. Mas será
que o mundo receberá de braços abertos aqueles que ousaram violar um de
seus mais arraigados tabus? E você, receberia? Com extrema sutileza
psicológica e sensibilidade poética, cenas de inesquecível beleza visual
e diálogos de porte dramatúrgico, Suzuma tece uma tapeçaria
visceralmente humana, fazendo pouco a pouco aflorar dos fios simples do
cotidiano um assombroso mito eterno em toda a sua riqueza, mistério e
profundidade.
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Eu nem sei por onde começar essa resenha. Certamente é o livro mais difícil que eu já tive ou terei de resenhar. Porque é um tema tão delicado, que não há palavras suficientes que possam expressar o que senti ao lê-lo e como passar minha opinião com a mesma delicadeza que a autora teve ao escrever essa história.
O livro nos apresenta uma família de cinco irmãos, que são: Lochan, Maya, Willa, Kit e Tiffin.
Lochan é o mais velho, mas tem apenas 17 anos. Maya é apenas treze meses mais nova que ele, tendo então 16 anos. Kit tem 13 anos, Tiffin tem 9 anos (se não me engano), e Willa é a caçula com 4 anos. O pai os abandonou há muito tempo, e por causa disso a mãe se tornou uma mulher completamente ignorante aos filhos, onde seu objetivo é apenas viver com o novo namorado e sair para beber.
De cara, somos apresentados a triste realidade em que eles vivem. Lochan começa narrando sua rotina difícil, que é uma jornada dupla entre cumprir com seus deveres escolares como um adolescente normal, e ser o responsável pela casa e seus irmãos mais novos. E com uma narrativa bem densa, detalhada, e sensível, conhecemos sobre a personalidade desse jovem que passa por problemas suficientes para deixar um psiquiatra de cabelo em pé.
Ele sofre de muita ansiedade, tem crises de pânico, e não consegue interagir normalmente com os alunos e professores na escola. Pode ser uma consequência de ter tido que amadurecer tão cedo e lidar com coisas na qual não deveria se preocupar, mas pode ser apenas algo que faz parte dele. Esse é só o primeiro questionamento que o livro nos trás.
Com o passar das páginas, vamos conhecendo essa rotina difícil, corrida e triste de uma família pobre que não tem nem o apoio dos pais. Lochan embora se sinta sozinho, tem uma pessoa que considera tudo em sua vida, que é Maya, sua irmã.
Juntos, os dois cuidam dos irmãos mais novos, dividem as tarefas da casa, as preocupações com a mãe (e qualquer outra coisa trivial), e ainda apoiam um ao outro.
Por mas que a história seja um tema complexo, polêmico e que dividi muitas opiniões na internet, eu acredito que a autora soube o trabalhar muito bem, já que desde o começo, ela nos faz entender e sofrer com as angustias dos personagens, cria um ambiente completamente crível e condizente para que a história tome o rumo que ela apresenta, e é ai que surge mais um questionamento: será que se fosse em outras condições de vida, a história seria diferente?
Lochan e Maya primeiramente são amigos, irmãos que tem nas costas o papel de pai e mãe de três crianças mais novas, e (mais uma vez) responsabilidades que não deveriam ter tão cedo. Maya ao contrário de Lochan, é uma menina descontraída, com facilidade para interagir e fazer amigos, mas que mesmo assim ainda prefere a companhia do irmão mais velho que é seu porto seguro.
Com o passar dos dias, entre muitas interações familiares, vemos dois jovens se aproximarem gradativamente e quando dão por si estão sentindo algo mais do que amor entre irmãos. E os primeiros sentimentos que surgem é de nojo, indignação, e medo. (assim como nós leitores ficamos espantados). Mas junto com eles, vem também o sentimento de desejo que a cada segundo que passa, cresce e se torna impossível de ser reprimido.
Junto com os dois, nos questionamos muito sobre tudo, mas mesmo não sendo capaz de transmitir tudo o que gostaria de dizer sobre esse livro, posso dizer que não é um livro repulsivo como o tema o faz parecer. É tão gradual e orgânica a forma como a autora aborda o tema, e você sente que eles são tão vitimizados pelas circunstancias da vida, que é impossível não desejar que tudo desse certo e eles possam encontrar uma solução para encontrar a paz que tanto desejam.
Acredito que pessoas que tem irmãos do sexo oposto podem ficar se associando o tempo todo, e não sei se isso é algo bom, já que acho que com certeza vai influenciar na opinião sobre o livro. Mas como eu não tenho, então desde o início consegui abstrair o grande tema tabu (incesto) e vivi, e sofri com os personagens.
A própria Maya se questiona e tenta imaginar se ela sentiria o mesmo por seu irmão mais novo que é apenas três anos mais novo que ela, mas imediatamente ela sente nojo e sabe que no fundo ela e Lochan não são apenas irmãos, eles se vêm como almas gêmeas.
Eu custei algumas páginas para me prender a história, já que como disse antes, é uma escrita bem detalhada, densa e muito triste. Acho que é o livro mais triste que li até hoje, e foi impossível segurar as lágrimas, principalmente com o final, que foi o mais marcante de toda a minha vida, com certeza.
Até hoje, sinto uma angustia ao falar desse livro, porque é como se esses personagens tivessem existido e sofrido tudo de verdade, e eu junto com eles. E é justamente por isso que demorei tanto para fazer essa resenha, porque eu sabia que teria de ser escrita com calma, paciência, revivendo sentimentos difíceis, e que ela acabaria sendo bem longa. Fica difícil resumir algo tão profundo, tão complexo e que pode ser tratado de forma errada se não tão bem explicado. Espero ter conseguido explicar o suficiente para você pelo menos o dar uma chance. E embora você provavelmente não vai querer o ler novamente, ele vai marcar sua alma e mente de uma forma tão intensa que jamais vai o esquecer e ele será único para sempre.
Obrigada por ter chegado até aqui, e se você já leu, me conta nos comentários o que achou, vamos sofrer juntos por essa história tão triste. Beijos ;*
Quotes
Como uma coisa tão errada pode parecer tão certa?
Família: a coisa mais importante de todas. Meus irmãos podem me deixar doido às vezes, mas são meu sangue. São tudo que já conheci. Minha família sou eu. É a minha vida. Sem eles, eu caminho sozinho no planeta.- Lochan.
Estou me desintegrando. Sinto tanto nojo de mim que tenho vontade de fujir do meu próprio corpo. - Lochan.
Ele sempre foi tão mais do que apenas um irmão. Ele é minha alma gêmea, meu oxigênio, a razão pela qual espero com ansiedade pelo momento de acordar todos os dias. - Maya.
“No fim das contas, é o quanto você pode suportar, o
quanto pode resistir. Juntos, não fazemos mal a ninguém;
separados, nós definhamos.”
"O sentimento estava lá havia anos, se aproximando da superfície a cada dia; era apenas um questão de tempo até romper nossa frágil teia de negação, nos obrigando a enfrentar a verdade e reconhecer quem somos: duas pessoas que se amam - um amor que ninguém mais poderia compreender."
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