Atualizações de uma sobrevivente de 2020

novembro 10, 2020

 Eu já nem me lembro mais a última vez que escrevi sobre a minha vida aqui nesse blog. E justamente por isso nem sei por onde deveria começar. Mas que os últimos anos foram loucos, aaah foram. As vezes parece que as fases que passo se tornam como um sonho distante na mente, apenas lembranças de coisas que nem acredito que vivi.

Anos atrás eu estava determinada a fazer um intercâmbio porque sonho em conhecer o mundo e falar inglês. Deu certo? Não. Porque o baque foi grande e voltei. Menos de dois meses depois eu já estava trabalhando em um centro médico, rotina cheia, novos colegas de trabalho, ganhando meu dinheirinho por mês, pagando um boleto atrás do outro, tomando fumo em cima de fumo de chefe, mas tava bem feliz por recomeçar e com vontade de encontrar o rumo certo do que fazer dali pra frente.

Se tem uma certeza que eu tenho na vida do que quero, é que quero conhecer lugares, ter momentos inesquecíveis, mas também ter as pessoas que amo comigo. Então morar fora realmente não é algo que penso com frequência mais. Depois de desistir do intercâmbio, decidi fazer a faculdade que eu já tinha vontade de fazer, fazer um estágio, crescer aos poucos na área até conquistar um salário que eu consiga guardar para conhecer todos esses lugares. E levar pelo menos a minha irmã comigo.

Enquanto trabalhava nesse centro médico, me preparei para no começo do ano seguinte começar a faculdade, a distância, pra facilitar a minha logística, já que meu pai poderia sair da empresa e teríamos que nos mudar de estado, e assim ficaria mais fácil transferir apenas o polo. Sem contar que, apesar de não ser fácil como a maioria das pessoas pensam, o horário de estudo é realmente bem flexível, e isso ia ser uma mão na roda pra mim.

O ano passou, e dezembro estava cada vez mais perto. Nesse ponto eu já estava me cansando de algumas pessoas grossas que trabalhavam ao meu redor e meu pai com as férias planejadas de quinze dias. Foi ai que tive que decidir se iria com meus pais pra rever a família, passar uns dias na praia e arriscar meu emprego, ou.... ficava sozinha por quinze dias, torcia por um recesso, e passava o fim de ano praticamente sozinha torcendo pra não ser mandada embora de qualquer maneira, porque o clima já estava bem tenso.

Resolvi ver a família, foi uma viagem incrível e inesquecível, mas acredite só? Fui demitida. Pelo menos ganhei o peru postecipado de natal um dia antes de me mandarem embora dia 06/01, olha só? Que beleza.  

Dai por diante teve muita ladeira abaixo, falta de dinheiro, uma lojinha de papelaria que não saiu por conta de frete caro, cachorro doente, choro, mãe que operou, governo de bosta... e PANDEMIA. Muitas gente morrendo, idiotas duvidando do poder do vírus, discussão por política, e o medo de ficar doente em um lugar que nem tinha hospitais com uti. Mas também teve o começo da faculdade, muitas séries e livros que me trouxeram momentos bons em meio ao caos. 

Mas como desgraça pouca é bobagem, meu pai estava também passando por um momento de incertezas no trabalho, e depois de meses quando já estávamos mais tranquilos, e até planejando nossas férias, o lugar que ele trabalhava fechou. 

Resultado? Nos mudamos de volta pro estado de São Paulo, com uma mudança corrida, turbulenta, muitas contas a serem pagas, e muito estresse envolvido. Antes, durante e depois. Com direito a passar três dias com a mesma roupa, porque a lindeza aqui não colocou a mala de roupa a tempo no carro e carregaram ela no caminhão da mudança e fui descobrir isso bem depois.

Agora, um mês e dez dias depois de chegarmos, ainda temos muitas preocupações, e problemas todos os dias, mas ver o sorriso, ou o choro grato dos meus avós por ter a gente aqui perto, não tem preço. E mesmo 2020 ainda me surpreendendo ou me decepcionando, com entrevistas de emprego muito promissoras e que não vingam, ainda tenho esperança de um ano melhor. Porque o que será de nós se não houver esperança? 

Resumindo, estamos sobrevivendo a 2020, mas com muito custo. E se tem uma coisa que garanto que perdi esse ano, foi a minha saúde mental. Já não me sinto mais leve como era, e tudo me dói em uma intensidade que não doía mais. Prestes a fazer vinte e sete anos, só quero paz, saúde e tranquilidade. Será que é pedir demais? Porque olha, tá foda.



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